Neste post, a aluna Maria Augusta, de forma bem-humorada, relata os "passos e descompassos" da dança e nos convida a refletir sobre essa forma de arte... Preparados para bailarem nessa leitura?
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Entre
pisadas e risadas em um fim de tarde no centro da cidade, avistei algo que me
trouxe até aqui. Tentei não olhar, mas as vozes e barulhos foram sumindo, só
conseguia ver aquele rosa, mas era AQUELE cor-de-rosa, do tipo que dói no fundo
dos seus globos oculares. Aquela camiseta vinha caminhando lentamente na minha
direção, com a imagem de um aparelho de academia e a seguinte frase: “ Tá’ difícil? Faz ballet”.
Segurei
a desconhecida pelos ombros com toda força que pude exercer naquele momento e,
aos gritos, perguntei: “VOCÊ SABE O QUÃO DIFÍCIL É A DANÇA E AINDA ALCANÇAR
SEUS OBJETIVOS NELA?”. Ela, acuada, soltou-se e correu.
Ok,
você me pegou, não foi bem isso que aconteceu e, mesmo com todo meu cenário
imaginário, a moça seguiu seu trajeto, carregando suas sacolas e conversando
com sua amiga, sem que eu, ao menos, tivesse me dirigido a ela. Por esse quase
acontecido, decidi escrever, um pouco, sobre o universo que é a dança.
Não
tenho a intenção de desmerecer nenhum tipo de arte ou representação, mas, cá
entre nós, a dança tem poder sobre os que estão dentro e os que estão fora
desse mágico universo. De certa forma, compreendo aqueles que
concordam com a frase estampada na camiseta, pois essa é a missão de um
bailarino, fazer com que pareça fácil. Ainda que seu corpo doa, que seus pés
sangrem e que sua mente esteja lhe pregando peças, ele nada deixa transparecer.
São
taxados de loucos, e são loucos mesmo. Loucos e apaixonados pelo que fazem, pelo
passo ou pela sequência acertada, por toda superação, o frio na barriga, os
aplausos, as cobranças, o barulho consequente do impacto de cada salto na
madeira do palco, o cheiro de spray para cabelo, o cheiro de talco, o cheiro de
vida. Uma vida que é representada por altos e baixos, lágrimas e sorrisos,
elogios e críticas e todos os outros prós e contras... Porém, pergunte a um
bailarino se ele é feliz, e, quase que sem pestanejar, sua resposta será SIM!!!
Óbvio
que nem tudo “são apenas flores”... Mas podemos, ludicamente, ignorar os
espinhos e, se tem uma coisa que aprendi na dança, é que desistir nunca é uma
opção. Mas é a partir daí que saliento a dificuldade inicialmente mencionada.
Citar
os benefícios da dança (seja ela qual for) seria apenas “vender o peixe” e essa
não é minha intenção. Então, vou resumir uma bailarina com duas frases: “ DIVA
nos palcos, SÓ ‘O PÓ’ durante os ensaios”. Talvez não faça muito sentido para os que
estão lendo, mas assim que vocês tivessem sua primeira unha encravada, acompanhada
de lindas bolhas (que costumam ser até apelidadas) e após sustentarem seu corpo
por horas a fio apenas nos dedos dos pés, cruelmente apertados dentro de um
bloco de gesso que é cinicamente disfarçado por um lindo cetim cor-de-rosa
(olha ele de novo), entenderiam e muito bem...
Brincadeiras
à parte, tenho a obrigação de relacionar a dança à arte e à cultura, afinal, a
dança é a arte em que o artista se torna a própria obra, pois se usa o
corpo para representar tudo e qualquer coisa, causando sorrisos e incontroláveis
lágrimas, trazendo consigo toda uma vasta cultura desde os primórdios até a atualidade,
sendo quase impossível separar uma da outra.
As
cortinas deste palco estão oficialmente fechadas e protegidas de todo o meu
blá-blá-blá. Mas não se anime tanto assim, porque eu volto, e em breve.
Agradeço pela sua presença e espero que tenha valido a pena.
(Maria
Augusta Moreno, ADM, matutino)