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Costumo
dizer às pessoas que nasci professora.
Com o
tempo, a experiência e os estudos, só me aperfeiçoei, mas sei que nasci
professora. Amo ensinar e acredito, de verdade, que a melhor maneira de
aprender é ensinando.
A
minha primeira experiência como professora foi antes mesmo dos 10 anos de
idade. Descobri que a faxineira que trabalhava na minha casa, Maria, não sabia
ler. Todos os dias, quando ela ia embora, alguém tinha que a acompanhar até o
ponto para que ela não pegasse o ônibus errado. Curiosa, como sempre, perguntei
por quê, e me explicaram o motivo.
Não
tive dúvidas. Na mesma hora, peguei um caderno, uma caneta e perguntei qual era
o nome do ônibus que ela deveria pegar. Jardim Peri-Peri. Nunca mais esqueci.
Escrevi
“Jd. Peri-Peri” em um papel, em letras de forma, e dei o papel para que ela
levasse ao ponto para comparar com o que vinha escrito nos ônibus que se
aproximassem. Antes dela ir, dei algumas dicas: “Como você não vai ter muito
tempo, perceba que essas duas últimas palavras aqui são iguais, então só preste
atenção nessa curtinha (Jd.) e na do meio (Peri)...”. E continuei com minhas
dicas: “Está vendo essa primeira letra? É o jota. Ele se parece com um anzol,
não parece? Então, se o ônibus que estiver vindo não tiver uma palavra que começa
com um anzol, não é ele. Se tiver, daí você olha o resto. ” E assim comecei a
ensinar a minha primeira aluna.
Como
eu sabia que isso não era suficiente (nada como a experiência!), quando ela foi
embora, acompanhei-a até o ponto para ver se ela iria conseguir fazer o que eu
havia ensinado, e ali apliquei minha primeira prova! E minha aluna passou com
louvor!
Mas sempre
fui uma professora desconfiada, daquelas que gosta de testar de verdade, então
a acompanhei por uma semana, até que nós duas nos convencêssemos de que ela não
precisava mais disso.
Lembro
que ela já trabalhava em casa fazia uns 3 anos e trabalhou por mais uns outros
3, e quando se tem 10 anos, 6 anos é quase uma vida inteira.
Neste
tempo, não me bastei a ensiná-la a pegar o ônibus certo para ir para casa. Fiz
a mesma coisa com o ônibus da vinda, ensinei Maria Aparecida de Souza a assinar
seu próprio nome, as letras do alfabeto e a ler. Quando ela saiu de nossa casa,
Maria lia livros. Estava alfabetizada.
Hoje sou
professora de inglês há 16 anos, e agora estou cursando administração. Com
tantas matérias novas que não domino, estudo muito. Leio, releio, faço resumos,
esquemas e, quando já entendi, a fim de fixar o conteúdo, procuro alguém para
quem explicar. Alguém que tenha dúvidas, que me faça perguntas e me force a
compreender melhor o que estou estudando.
Não
adianta tentar fugir de quem sou. Entender o conteúdo, eu entendo sozinha, mas,
para aprender, no sentido mais profundo da palavra, eu ensino!
(Iara Milito, ADM, noturno)
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