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Não é novidade para ninguém que o mundo está
repleto de gente sem noção. Existem aqueles que são tomados pela ignorância e,
por isso, nem sabem diferenciar suas atitudes. E existem aqueles, para mim, o
pior tipo, que são sem noção e sem escrúpulos. Este é coprotagonista da estória
de Bili, designado a ser o “guerreiro da sustentabilidade”.
Bili, todos os dias, seguia o mesmo trajeto
para ir de casa até o trabalho. Em um dia como outro qualquer, mas com um pouco
de chuva a mais, ele observou, ao mesmo tempo que segurava seu guarda-chuva
contra o vento, que na esquina da praça em que passava todos os dias haviam
deixado partes de um armário de cozinha, velho e colocado ali apenas para ser
descartado. Bili seguiu seu caminho, acompanhado de sua “cara de bolinha”,
pensando em quem poderia ter feito aquilo.
No dia seguinte, como todo brasileiro assalariado,
nosso guerreiro saiu novamente de casa para ir trabalhar. Passou por árvores,
casas, carros estacionados e, ao passar pela praça, vejam só, viu que o armário
escangalhado acabara de ganhar a companhia de sacos de entulho... Reforma boa
essa. Foi aí que, então, Bili decidiu descobrir quem estava fazendo tal coisa.
Todos os dias, saía de casa mais cedo para
tentar flagrar o novo rei do lixão que estava crescendo na pracinha. Até que,
um belo dia, ele avistou de longe o Sr. Catamontes, seu vizinho, deixando
estacas de madeira ali, em meio a todo o resto que já depositara. Bili esperou
para seguir seu caminho e planejou consigo mesmo que voltaria ali no dia
seguinte.
Naquela noite, Bili já havia arquitetado seu
plano e o colocaria em prática logo cedo. E foi o que fez. Levantou bem cedo,
antes que os galos cantassem, pegou suas coisas e seguiu até a praça. Chegando
lá, Bili, descaradamente, largou um saco de coisas velhas (que poderiam ser
recicladas, mas, agora, seriam levadas pela chuva e entupiriam bueiros) e
seguiu seu caminho como se nada tivesse acontecido.
Creio eu, mera narradora, que você está tão
decepcionado como eu, que também pensei que Bili seria nosso grande herói e
daria uma lição no Sr. Catamontes. Mas tanto quanto o seu vizinho, Bili não se
importava nem um pouco com lixo mal descartado e para onde esse ia. Bili era
vilão da própria estória, e guerreiro da sustentabilidade, uma ova! Ele era só
mais um que se preocupava com o seu umbigo e nada mais, e o pior, ele era o sem
noção tipo dois: sem noção e sem escrúpulos. Pobre confiança depositada em vão.
Quantos Bilis você conhece? Você não é um
deles, é? Não decepcione a si mesmo, procure sempre a melhor maneira de
descartar o que não lhe é mais útil e lembre-se: os Bilis de hoje conhecerão os
carmas de amanhã.
(Giovanna Batistela, ADM, diurno)
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